Mandragora Officinarum

mandragora

a constelação de Orión era (segundo consta em vários canhenhos) habitada pelo Deus Osiris, o qual, há milhões de anos padecia de uma doença estranha – o aborrecimento

e

porque nunca tinha tido a oportunidade de se olhar ao espelho, decidiu vir á Terra para se contemplar num dos seus templos

com este objectivo, disfarçou-se de cavaleiro – colocou uma espada na bainha do seu cinto ornado por três pedras preciosas. um capacete e uma couraça, completam a sua indumentária de guerreiro.

mas, porque desejava um companheiro para a viajem, convidou uma estrela vizinha – O Cão – o qual aceita acompanhá-lo.

por seu turno, esta estrela resolve conservar a sua própria figura de cão

e

levar consigo, como amuleto, meia lua de chumbo.

foi assim que se lançaram ambos num voo de séculos a caminho do nosso planeta.

ao aproximarem-se da Terra, o primeiro encontro foi com grandes bandos de pássaros, que chilreando de júbilo, se cruzaram com eles, e saudaram efusivamente Osiris como se se tratasse de um velho amigo. porém, com o cão nada queriam, pois este dava mordidelas, grunhia e tentava matar os que dele se aproximavam.

mas próximo da Terra, grandes nuvens de mosquitos, abelhas e moscardos se aproximaram, respeitando o cavaleiro, enquanto ao pobre cão tratavam de o mortificar sem compaixão.

um pouco mais perto do nosso planeta, o efeito da Lei de Atracção, provocou o descalabro; o cão com a sua lua de chumbo – bem pesada – precipitou-se. até se perder de vista.

Osiris, entretanto, escutava o relato de quantos animais encontrava, a respeito das coisas da Terra.

entretanto a estrela – O Cão – precipitou-se sobre a superfície do planeta com tal violência que se fundiu no solo gritando e pedindo auxílio…

ao ouvir o pedido de socorro, Osiris procura libertar o companheiro, empunha a sua espada e escava desesperadamente.

primeiro, descobre o focinho, logo as orelhas, mais tarde a cabeça, as patas, e por último, o tronco. no fim desta operação, levada a cabo por Osiris, o local ficou repleto de destroços; bocados da espada, carne do animal e sangue…  uma mescla de aço e carne de cão.

então o aço – pertença do Deus –  ali ficou como símbolo do bem

e

a carne no animal, como base do malefício.

conta-se que naquela noite se ergueu nesse lugar um cadafalso onde foi sacrificado um inocente que no momento em que foi levado à forca se urinou de medo. a urina caiu sobre o aço e a carne do cão provocando, assim, o nascimento de uma planta à qual chamaram Osirides. outros, porém, a apelidaram de Mal Canino. Mais tarde, essa mesma planta, foi denominada de Mandrágora.

desde essa altura a medicina ocupa-se desta planta para lhe extrair a parte de Deus, a que cura as enfermidades. porém, a parte do cão destina-se ao lado obscuro…

(a Magia Goética trabalha muito com a Mandrágora).

os curandeiros também obtêm  bons resultados para curar todas as enfermidades dos órgãos sexuais, os rins e, sobretudo, é o remédio por excelência contra os males do baço – e o baço tem grande importância astral.

para nós, a mandrágora é usada apenas para efeitos astrais… ritos que beneficiam as nossas prestações enquanto criadores de acções performativas.

estamos a falar da planta Mandrágora Officinarum. que outros conhecem pelos nomes vulgares de Berenjenilha ou Uva de Mouro (Atropa Mandrágora). esta planta que cresce na península ibérica, em bosques sombrios, junto às correntes de água e em sítios misteriosos onde nunca penetra o Sol. a sua raíz é grossa, longa e esbranquiçada, por vezes dividida em duas partes.

uma porção de folhas ovais e onduladas rodeia a raiz e se estende em círculo pelo solo.

o seu fruto, semelhante a uma pequena maçã, produz um odor desagradável assim como toda a planta.

os campesinos conhecem, ainda que por tradição, o terror que só o nome desta planta despertava nos seus antepassados.

para eles era um vegetal que tinha algo de Ser Humano e as obras de magia indicavam-na como algo excepcional a que é forçoso dispensar culto.

Teofrasto Paracelso diz: Antropomórfosis, Columela, Simili − Homo e Eldal, árvore com cara de homem.

entrava na composição dos Filtros, dos malefícios e em diferentes receitas de feiticeiros.

quando a arrancavam da terra, diziam que o homenzinho encerrado nela lançava gritos horríveis e gemidos agudos.

era preciso colhê-la, debaixo de uma forca, após ritos estranhos.

há uma variedade de Mandrágora conhecida como do género feminino, distingue-se pelas suas folhas pequenas, pelas suas flores púrpuras e seu largo fruto.

uma obra da Idade Média distingue estas variedades, na forma de Homem e Mulher, Adão e Eva, no Paraíso Terreal.

entre as plantas sagradas, a verdadeira Mandrágora, a dos magos, só cresce em abundância nos Himalaias – Tíbet – onde os sacerdotes a cultivan.

Leyendas hay sobre esta planta que llenarían volúmenes. La Biblia la cita en el Génesis en relación con el acto sexual. Josefus, Buda, Confucio y Mahoma, la mencionaban, y todos ellos se preocuparon por ella. La Iglesia cuenta que el Arzobispo Eberhardo murió en el año 1066 debido a un maleficio hecho con esta hierba, y sobre su tumba hay una lápida que hasta hoy mismo es admirada por los turistas donde se relata este hecho. Los concilios, se ocuparon siempre de este asunto y la mayor parte de los procesos de la Inquisición tienen como cuerpo del delito las manipulaciones con Mandrágora.

DESARTES DESASTRES

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a arte corporal do poeta é uma forma emergente, o que poderá justificar a ausência de elementos que marquem um estilo. esta acção, cujo suporte é o corpo, contém em si o rufar de tambores, pés e músculos – uma base. o chão. a terra. e os corpos como sombras, agitam-se em transe. o corpo e a terra… pluralidade numa relação de causa-efeito numa explosão de símbolos e signos. um entendimento único, absoluto, verdadeiro, dirigido ao espectáculo construído por “magos” e “bruxos” recuperadores (em processo) de rituais perdidos – um poema intenso, xamânico.

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nesta acção focalizada no corpo do artista, devemos abarcar outras morfologias contemporâneas como o vídeo arte, a mail art, a foto performance… porque, ainda que essas acções possam vir a não contar com o corpo do artista (de forma explícita, claro), elas são uma referência ao acto e à acção do actuante.

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partimos, pois, do princípio de que o trabalho artístico é o que é. não é pintura, teatro, metáfora ou qualquer outra coisa – é uma imagem num universo onde tudo são imagens. então, o corpo em movimento vibra, liberta o vapor que exala já o transe. o espectáculo, este espectáculo, ganha forma numa terra selvagem e os poetas-magos atraem a si as forças telúricas, no bater dos pés nus.

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texto de manuel almeida e sousa
imagem de performance de mandrágora

sonho e realidade IX

 

 

entre a razão e o sonho interpõe-se o acto dominado pela irrupção da matéria – aqui, a acção do corpo não é alheia.

propomo-nos mostrar imagens marcantes. imagens que, todavia, podem passar desapercebidas. imagens intensas e impregnantes num jogo continuo por onde podem navegar ambiguidades, metamorfoses, transgressões…

arte/sonho. arte/instrumento de apropriação de imagens que povoam o nosso quotidiano

sonho e realidade V do kaos

U M  O L H A R   S O B R E  A  R E A L I D A D E

CAOS?
uma pergunta… e uma resposta no olhar de nossa janela. a resposta não é completa tão pouco objectiva – apenas um desfazer de preconceitos e um olhar diferente.

o caos é a possibilidade de tudo…
os gregos o diziam. todavia o público tem uma noção limitada sobre ele – o caos.

para ele (público) o caos é algo dos domínios do mal, da desordem… mas serão estes os conceitos de caos?

o caos enquanto possibilidade de tudo, é uma teoria. uma forma de interpretar a realidade…

os sistemas dinâmicos comportam variações e, com o decorrer do tempo… de forma aleatória. sempre.

dizem que estes sistemas estão sempre presentes e em factos simples; como o de uma folha que cai de uma árvore ou o de uma borboleta batendo asas.

a imprevisão está ligada ao sistema e, a evolução caótica é o resultado desta imprevisibilidade.

olhemos através de nossa janela…
uma acção em progresso. um acto único nos encontros de arte contemporânea algarve-andaluzia (tavira) porque:

no princípio era o caos… talvez em busca das nossas raízes perdidas – a lei é, todavia, simples… porém, o comportamento no espaço
complexo

base: “arte, caos, ou a própria realidade?”

arte performance algarve tavira

encontros de arte contemporânea algarve-andaluzia – um projecto da associação de artistas plásticos do algarve

mandrágora esteve presente – tavira, atalaia, 2011  (com m. almeida e sousa e gonçalo mattos)
a ideia
o projecto
envolveu o quotidiano – o espectáculo – como diria gui debord
e
prevemos as imagens

Ao viver sentimos que cada momento, cada instante, é fugaz. Quando construímos uma acção a partir das nossas vivências, também ela será fugaz, efémera como qualquer acção real. Na proposta tudo passa pela recriação do instante, ou pela sua imagem, a criação de uma acção, sem a intenção de outra coisa que não a acção em si mesma.
As vivências são, pois, a matéria prima e a criação é elaborada a partir de imagens (memórias). Tais imagens passam e a intenção será apreendê-las num “espaço-matéria”, de forma a que todos os momentos efémeros não o sejam tanto e não nos escapem com facilidade.
Os materiais são, como as acções, efémeros – ao passar pelo objecto abandonado na rua vem-nos à ideia a sua utilização na acção. Porém, se o não guardarmos, no dia seguinte ele foi levado para a lixeira.
A acção criada num palco ou num espaço pictórico é tão fugaz como o objecto que encontrámos na rua… o seu fim será necessariamente uma lixeira uma grande lixeira. Dessa acção fica-nos apenas um “souvenir” para o álbum de família.

mas
o objecto da nossa “alma” é o corpo, só esse corpo existe no acto.
O actor procura colocar-se num ponto e “organiza” a sua percepção do espaço circundante – dá-se início ao movimento

e
tudo o mais são adereços num espaço
a alternativa passa pela extenuante e constante busca de uma humanidade perdida e destruída. uma espécie de trágico visionarismo que descobre as imagens perdidas (entenda-se imagens como um todo poético a exemplo de António Maria Lisboa; “…Tudo são imagens…” ou se quisermos; na magia tudo é imagem, cor, ritmo, sonoridade, movimento – a abstracção é, pois, estranha a este fenómeno)

nota: esta acção de mandrágora contou com participação de m. almeida e sousa e gonçalo mattos – prevista inicialmente a participação de bruno vilão. um projecto em processo e progresso. um acto só possível graças ao apoio do quartel de tavira “atalaia” e da insistência e aposta de josé bivar no “novo”, no inovador.

notas soltas performance arte

         ao substituir a narrativa clássica – casual, diacrónica – provoca-se a deslocação de uma organização temporal para uma organização espacial. a sincronia provoca um sentido de atemporalidade que remete para uma obra aberta, universal, logo não temporal.

ainda que a relação – ou equivalência – seja clara entre linguagem e pensamento, nem sempre será cumprido o acerto de que toda a predisposição para o pensamento corresponde a uma forma determinada de falar. tudo passa pela atitude do usuário linguístico (intenção, ironia, etc.) e, pela capacidade de (ele) utilizar uma linguagem capaz de transmitir o dito, é dizer; o que alguns chamam de função poética da linguagem. somos, pois, levados pela sedução da palavra – o falante é responsável pelo que diz e em distinguir as relações entre o que se diz – dito – e o que procura dizer de forma a penetrar no jogo; – o que se fala, o que deve entender quem escuta.

portanto, uma poética acção – a poesia será aquilo que está em movimento e tudo o mais será “prosa”.  e o desejo é um estar em movimento, não parar, actuar… o exposto é tanto retórica quanto conceptual. a acção vai avançando de acordo com suas próprias fissuras, produto de múltiplos confrontos, directos e indirectos que, no terreno experimental, são realmente vividos. as chaves deste acontecer poético: o móvel e o estático.

nota 4

da luz

imagem: espectáculo de mandrágora sobre a poética de pedro oom – “AUGA” – 1980

um frio que, associado à luz da manhã, se converte em símbolo de um límpido e inaugural olhar sobre o mundo

I

o percurso que conduz ao movimento, que leva o actor a compreender a linguagem em jogo, produz-se pela via dos sentidos ao submeter-se espontânea e cuidadosamente a estímulos diversos que lhe permitam observar as reacções naturais do corpo – enquanto organismo – através de um trabalho com ritmo, com materiais, com o som ou, com a cor.
e
para que possa entender a dinâmica de um som ou uma cor determinada, é elemento fundamental
a luz.
aquela luz que adquire formas num diálogo com o espaço, com o movimento – a luz que sublinha a imagem que se quer transmitir ao espectador.
a luz e a penumbra jogam.
permitem apontamentos que recriam o abismo, o precipício (onde o movimento se perde nos limites do espaço) – apontamentos que confundem e surpreendem o espectador.
e
é o olhar do “artista” – enquanto operador do processo – que lhe dá dimensão.
as regras podem ser subvertidas (alteradas) pela luz. a exploração dos efeitos podem permitir verdadeiras esculturas luminosas, misturas de tons…

de uma forma geral utiliza-se a luz para iluminar objectos, actores…
poucas são as vezes em que se considera a luz em si.
daí que não experimentemos, tomemos partido do seu real poder. aquele poder que nos permite o entendimento da dinâmica de uma cor determinada ou dos materiais utilizados na acção…
a luz que nos ajuda a sentir
o tempo
a chuva
o vento…
não a luz enquanto mera experiência cientifica ou espiritual – falamos da luz como contributo cultural (porque estético) que permite a viagem por entre acções que implicam o drama em espaço físico dinâmico e liberto.
um espaço que “exige seja ocupado e que permita uma linguagem própria e concreta” como diria antonin artaud.
portanto, a luz é contributo incontestável para a concepção de um espaço de diálogo, aberto aos sentidos. um espaço independente e livre de qualquer imposição, aberto a toda e qualquer linguagem. aberto à espontaneidade e á criatividade que irrompe do corpo (todo) do actor – o sacerdote do ritual. do drama.

II

deve-se, pois, olhar a luz como algo que – como na aproximação dos faróis de um carro que nos pode atropelar
nos faz ficar imóveis e deslumbrados.
então
devolvemos ao espectador o que ele transporta consigo
devolvemos ao espectador uma obra que provoca um despertar

III

muitas experiências religiosas explicam-se utilizando um vocabulário de vazios de luz – mas a arte pode e deve conduzir o homem ao espiritual não necessariamente religioso.
e
o espiritual tem sido historicamente o objectivo e o território da arte.
as religiões usam e abusam da arte para se aproximarem do terreno
e
a arte deve fazer crescer o espectador ou pelo menos recordar coisas para além do visual e do terreno.
e,
ao mesmo tempo,
o operador do processo sabe que os sentidos podem evocar a espiritualidade mas não nos transportam necessariamente para aí.

IV

com a luz as regras mudam – a mistura dos tons luminosos não é um projecto espiritual ou cientifico é educação, é cultura.
a luz é embrionária – nos passados séculos não havia instrumentos musicais sufisticados e foram possíveis grandes sinfonias. ter à disposição instrumentos, não implica boa música… – obtemos melhor luz quando dispomos de um bom olhar
e
material aceitável.

m. almeida e sousa

nota 3

Cada imagem é um sigilo – pessoal. E sendo as imagens sigilos bem personalizados, cada “operador” desenvolve o seu acto segundo o seu desejo, a sua estética… Isto é movimento. Poesia. E… Kaos.

imagem – espectáculo “anima” de mandrágora em 1999

nota 2 entrevistando

Em Punta Umbria fez a performance que, segundo disse no início, seria a última. Nessa acção queimou uma bandeira da União Europeia e deu todo o espaço a um jovem actuante. Ele é Manuel Almeida e Sousa e, as suas acções, irrompem no espaço (ou espaços) com alguma agressividade mas sempre com um sentido estético invulgar nos meios da performance-arte.
Recentemente, “secundado” ou melhor, bem acompanhado por artistas mais jovens que suportam o movimento e acabam por ter, muitas vezes, maior visibilidade que ele – como foi o caso das performances de Punta Umbria deste ano e de há dois anos atrás. E foi o caso das Acções de Arteséries em Faro (das quais vimos os vídeos). Bruno Vilão e Gonçalo Mattos tiveram espaço privilegiado nessas acções (este último foi – sem sombra de dúvida – a grande surpresa em Edita 2012).
A “glorificação” do movimento-acto, da poesis e do corpo estão sempre presentes na pauta das acções apresentadas por Mandrágora. E esse percurso, vicia e encanta-nos enquanto espectadores activos na mostra.
É com o Manuel que mergulhamos neste diálogo só possível via mail, uma vez que a distância geográfica que nos separa não o permite de outra forma. Comecemos…:

– Em Punta Umbria queimaste a bandeira da União Europeia…!?
– Em Punta Umbria queimei um símbolo. Queimei uma ideia de uma Europa na qual não me revejo. Não queimei a Europa como alguns querem fazer crer, queimei, incendiei sim, valores que recuso enquanto cidadão. Queimei a bandeira da União Europeia da Merkel, do Sarkozy e doutras personagens cinzentas como o Barroso, da mesma forma que os cidadãos gregos queimaram em praça pública a bandeira da Alemanha. Eles, os gregos, (acho eu) não atearam fogo a Berlim, tão só se manifestaram contra as imposições de um governo estrangeiro que os quer (que deseja os povos do sul) escravos.
É a minha leitura e, a minha leitura vale o que vale.
A minha posição é e será a recusa. A de um não alinhado – desde sempre.
E… isso até me diverte, ainda que possa irritar alguns – alguém. Estou-me nas tintas. Se não gostarem… comam menos. Não será agora, no outono da vida, que vou mudar. E, se alguma vez alterar a minha posição de estar nesta sociedade – ou nos campos da estética – é porque perdi a pouca lucidez que ainda carrego às costas.
Aperceber-te-ás que há vampiros capazes de praticar o “mal” (porque se alimentam do teu sangue – da tua liberdade …… viciam-te). São até capazes de activar o obscuro, o outro lado do olhar – e esse olhar maléfico é o não amor, a não entrega solidária, gratuita e livre aos outros.
Os vampiros jogam dados selvagens e viciados – anulam as tuas saudáveis fantasias individuais.
– Marxista?…
– “De tendência Groucho”!… Não, nunca fui marxista. Nunca fui militante de coisa alguma e sempre recusei o culto da vítima tão a gosto dessa ideologia… acrescentemos o cristianismo ao pacote, também ele a carregar com os seus mártires no lombo.
“Marxistas” só gosto de quatro. Os irmãos Marx (Chico, Harpo, Groucho e Zeppo).
O marxismo é tão só uma forma de autoritarismo e, eu, só reconheço uma forma de autoridade: o conhecimento.
Mas o conhecedor jamais será um autoritário. Não necessita. Quem é autoritário, quem recorre ao autoritarismo, não é portador de sabedoria. Debaixo do manto do autoritarismo esconde-se sempre a insegurança e a mediocridade.
Logo não reconheço a autoridade de nenhum estadista – são, os que infestam os corredores do poder instituído, todos eles, uns medíocres que só têm visibilidade porque a primeira fila, a da inteligência e do conhecimento, foi eliminada por decreto.
– A tua performance de Punta Umbria foi a última. Disseste tu…
– Pois disse… ia para o meu país e, quedei-me por Espanha. Ia dormir… e aqui estou. E… ia em demanda da beleza, encontrei um poeta deliciosamente mentiroso…
– os teus companheiros na acção. No acto.
– Nenhum de nós deve seguir o outro. Caminhamos juntos até ao destino. Subimos… encosta acima e, no topo, estaremos aptos para escorregar por ali abaixo. Ou então, frente a uma encruzilhada e cansados, cada um seguirá o seu caminho. A sinceridade deve prevalecer sobre a desgraça, a hipocrisia ou a pena. E os papeis de plástico são para aqueles que deles necessitem. Para nós não.
Portanto somos o que somos neste percurso e portadores dos nossos sorrisos… tudo o resto, que se lixe.
– Quem és tu?
– Estranho… nem eu sei. Talvez… um burguês de nascimento que teima em bombear, como sempre, a cauda dum belo vestido de baile.
Sou, também, um gajo que acredita que a liberdade é una e indivisível (logo, que a liberdade é a unidade e a unidade não é – não pode ser – parcelar. É o todo).
– Outra performance…
– Está em saber movimentar o corpo nu – numa banheira – sobre grãos de arroz e gritar: – Os pecados do lobo são as feridas que resultam do querer centrar-se em si mesmo.
– É o novo tema?
– Pode até ser. Porque não?
Mas…
Não. Quero pesquisar (em processo) os mitos. Os mitos são tão necessários como molas, mas não nos devem influenciar no acto de criação.
Não. Decididamente…!
Vou, vamos actuar sobre a poesia visual/experimental portuguesa – uma outra acção de Mandrágora – com o Bruno a marcar o ritmo da acção. É um projecto dele que apoio incondicionalmente, ainda que esteja cansado destas coisas e inapto para entrar em acção. Ficarei de fora, mas activo.

cena 2 nota 1

          resumindo; a acção poética em processo e em progresso é aquela que contempla relatos e, num primeiro olhar, transmite uma sensação semelhante à que produz uma mesa posta com conhecimento e gosto… enfim, que só pode proceder de uma natural relação entre a pessoa que a pôs e os seus actos. nessa mesa que contemplamos,  repleta de iguarias, há muito mais que correcção, coerência e beleza. é fácil perceber que a disposição é dinâmica e que a vitalidade da imagem está ligada a poderosa expressão poética, na sua penetrante capacidade de sugerir outras leituras. leituras que, com a maior naturalidade, se expandem enquanto o observador se introduz no “quadro” e descobre que há espaço, mais que suficiente, para a imaginação. a sensatez é, neste caso, uma obra-mãe de depuração estilística.

a acção não se constitui num sistema fechado. são muitas e nem sempre complementares, as vidas desta vida.

imagens; performance de manuel almeida e sousa em tacira – associação “min arifa”